A CIPERJ, Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado do Rio de Janeiro, é responsável pela única revista científica nacional em Cirurgia Pediátrica. Em sua edição de novembro de 2019, abriu espaço também para o tema Cirurgia Fetal.
A nossa equipe participou com as abordagem sobre três temas importantes: “Anestesia para Cirurgia Fetal”, “Ética em Cirurgia Fetal” e “O que estamos fazendo atualmente na Cirurgia Fetal”.
São temas que proporcionam melhor compreensão do que acontece no panorama atual da Cirurgia Fetal no Brasil. E possibilitam destacar as condutas que garantem a segurança e o bem-estar da mãe e do feto.
Os artigos contribuem não apenas para a transmissão desse conhecimento à comunidade técnico-científica, mas também está disponível para médicos, professores, estudantes e outros profissionais da área de saúde e para a população em geral.
Veja abaixo os principais trechos abordados pelo primeiro artigo. Assinam os médicos Dinamene de Oliveira Nogueira, André Ivan Bradley dos Santos Dias e Camila Girardi Fachin.
Anestesia para Cirurgia Fetal
A anestesia para a Cirurgia Fetal carrega em si as peculiaridades próprias da anestesia obstétrica, utilizando seus princípios para tratar um ou mais pacientes, além da gestante.
Os objetivos globais a serem alcançados incluem a manutenção da segurança materna e fetal, a garantia da anestesia tanto fetal quanto materna, a preservação da estabilidade hemodinâmica materna e fetal e a diminuição do risco de desenvolvimento de trabalho de parto prematuro e ruptura precoce das membranas
Diversas modalidades anestésicas podem ser utilizadas (sedação, anestesia regional ou anestesia geral), de acordo com o procedimento fetal que será realizado.
Porém, é essencial que o anestesiologista tenha conhecimento das peculiaridades fisiológicas tanto maternas quanto fetais, bem como da circulação uteroplacentária e da transferência placentária de drogas entre mãe e feto.
As modificações fisiológicas na gravidez têm sido extensamente documentadas e sua compreensão têm impacto direto sobre o manejo anestésico dessas pacientes.
Por outro lado, por exemplo, a oxigenação do feto é dependente da placenta, sendo o pulmão órgão produtor de líquido amniótico. A placenta é um órgão que tem por objetivo manter nutrição e oxigenação fetal até o termo, permitindo a troca de substâncias entre mãe e feto. No manejo da anestesia, a causa mais importante da diminuição do fluxo sanguíneo uteroplacentário é a hipotensão.
Além da observação das peculiaridades fisiológicas, a discussão sobre a maturidade neurológica do feto e sua possibilidade de experienciar dor ainda não é finda, mas há uma forte tendência de bloquear os estímulos nociceptivos (percepção de estímulos nocivos) ao feto, uma vez que evidências indicam que ele apresenta resposta a esses estímulos após a 18° semana.
Principais técnicas anestésicas
Sedação: há indicação do uso de sedativos com o objetivo de anestesiar parcialmente os fetos e diminuir a ansiedade materna. A presença de movimentação fetal excessiva pode aumentar a dificuldade técnica para execução do procedimento. Pra isso, é importante escolher drogas que atravessem a barreira placentária. Clinicamente, a paciente deve estar em plano de sedação que permita acordá-la ao chamado.
Anestesia regional: a realização de anestesia no neuroeixo, raquianestesia ou anestesia peridural, se coloca como opção para realização de procedimento de fetoscopia, quando a anestesia local associada a sedação não for bem tolerada ou aceita pela mãe. É importante destacar a necessidade de realização da anestesia fetal por via muscular, com a utilização de opióides e bloqueadores neuromusculares.
Anestesia Geral: nos procedimentos de Cirurgia Fetal a céu aberto ou EXIT, a indicação de anestesia geral se dá pela necessidade de manutenção do relaxamento uterino adequado pela laparotomia e histerotomia materna. Porém, são os procedimentos de maior morbimortalidade tanto materna quanto fetal, por isso, a técnica utilizada exige extrema atenção à hipotensão produzida, principalmente em função do uso de tocolíticos como nitroglicerina e sulfato de magnésio.
No âmbito do crescimento do número de procedimentos de Cirurgia Fetal em nosso meio, a Anestesiologia comporta-se incorporando toda a normativo padrão e acrescentando atenção especial aos aspectos peculiares.
Assim, a avaliação pré-anestésica com assinatura de termo de consentimento esclarecido, planejamento dos atos de perioperatório ou provimento de analgesia devem ser realizados como rotina, enfatizados os aspectos próprios da Cirurgia Fetal: necessidade de um time que esteja entrosado e realize o planejamento em conjunto – anestesiologista, cirurgiões pediátricos, obstetras, médicos habilitados em Medicina Fetal, neonatologistas e todos os que compõem a equipe multidisciplinar.
Outros artigos Cirurgia Fetal da Revista CIPERJ
Na próxima semana, trataremos aqui no Blog sobre os artigos de “Ética em Cirurgia Fetal” e “O que estamos fazendo atualmente na Cirurgia Fetal”. Aguarde e confira!
Para ler os artigos completos sobre Cirurgia Fetal e conhecer mais detalhadamente o funcionamento de cada tratamento, é só fazer o download da revista, disponibilizado no site da Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado do Rio de Janeiro (CIPERJ).