A Síndrome de Transfusão Feto-fetal (STFF) afeta aproximadamente 10% (um em dez) casos de gêmeos que compartilham a placenta. Ou seja, a doença ocorre apenas em gêmeos idênticos.
Quando os gêmeos compartilham uma única placenta, chamamos de monocoriônica. Geralmente cada gêmeo terá sua própria bolsa de líquido amniótico e seu próprio cordão umbilical conectando-o à placenta.
Entretanto, no caso da STFF os vasos sangüíneos que conectam os dois cordões umbilicais à superfície da placenta acabam se conctando.
Dessa forma, fazem com que que o sangue de um gêmeo (o doador) flua para o outro gêmeo (o receptor). Esta transfusão de sangue ocorre quando há um desequilíbrio do fluxo sanguíneo. Como resultado o sangue do gêmeo doador flui para o gêmeo receptor, causando a síndrome de transfusão feto-fetal.
Como a síndrome da transfusão feto-fetal pode afetar os bebês?
O gêmeo doador “perde” sangue, então a produção de urina diminui. Dessa forma, uma quantidade reduzida de líquido amniótico é observada em sua bolsa. A bexiga do gêmeo doador pode ficar vazia e torna-se difícil de ser visualizada no ultrassom.
O líquido amniótico reduzido na bolsa do gêmeo doador é chamado oligodrâmnio. Às vezes, a membrana da bolsa do doador pode ser difícil de ser vista no ultrassom, pois encontra-se encostada no bebê (como algo embalado à vácuo).
O gêmeo receptor apresenta o efeito oposto. Ter mais sangue faz com que o gêmeo receptor passe urinar grandes volumes. Neste caso a sua bolsa fica com muito líquido. O aumento do líquido amniótico na bolsa do gêmeo receptor é chamado de polidrâmnio e isso pode levar ao encurtamento do colo uterino com ruptura da bolsa e nascimento prematuro extremo.
Conforme a síndrome de transfusão feto-fetal evolui, os efeitos em cada gêmeo podem se tornar mais graves. O gêmeo receptor pode ter dificuldade em bombear o volume de sangue extra e pode desenvolver sinais de insuficiência cardíaca.
Se o gêmeo receptor desenvolver insuficiência cardíaca, outras partes do corpo podem ficar inchadas com líquido. Essa é uma condição com risco de vida chamada hidropisia.
Além disso, a síndrome de transfusão feto-fetal pode alterar o fluxo sangüíneo no cordão umbilical de ambos os gêmeos e isso pode ser medido com ultrassom por um exame chamado dopplervelocimetria. Devido à natureza dos vasos sanguíneos conectados, às vezes um ou ambos os gêmeos podem morrer sem aviso prévio. Se um gêmeo morre, o outro gêmeo tem grande risco de morrer ou pode sofrer danos cerebrais graves.
Como diagnosticar a transfusão feto-fetal?
Os sinais e sintomas da síndrome de transfusão feto-fetal geralmente se desenvolvem no meio da gestação, entre 16 e 26 semanas. A mãe pode notar inicialmente que seu abdome se tornou muito grande e desconfortável com dores nas costas associadas.
Além disso, ela pode sentir contrações uterinas e perceber uma redução nos movimentos fetais. Um exame de ultrassonografia é necessário para medir o líquido amniótico e diagnosticar a doença.
Se houver suspeita de síndrome de transfusão feto-fetal em uma ultrassonografia, o médico responsável deve encaminhar a mãe rapidamente para um serviço de referência aonde seja possível confirmar o diagnóstico e realizar o tratamento.
Como é o tratamento da STFF
O tratamento mais adequado para a Síndrome da Transfusão Feto-Fetal é a ablação fetoscópica à laser. Na cirurgia fetal a laser introduz-se uma pequena câmera na bolsa do gêmeo receptor, o fetoscópio.
Portanto, o procedimento consiste na cauterização dos vasos de conexão (anastomoses vasculares) na superfície da placenta. Para tanto, usa-se uma fibra de laser. Dessa forma, é possível parar o fluxo de sangue de um gêmeo para o outro.
Ainda, a cirurgia é realizada a nível hospitalar e geralmente envolve o internamento da paciente por um dia.
A morte fetal pode ocorrer em um ou ambos os gêmeos na primeira semana após o tratamento com laser. Isso é reflexo uma mudança abrupta na circulação fetal.
Referências
– Síndrome da Transfusão Feto-Fetal (UFPR)
– Fetalmed Medicina Fetal Curitiba